Agressão física à mulher grávida um mal que afecta a saúde pública em Angola

Médica obstetra pede mais atenção para as gestantes, pois as agressões podem causar graves complicações, incluindo a perda do bebé e, em casos mais graves, a retirada do útero da mulher

Grávida de quatro meses, Maria Helena, de 27 anos, reside no bairro do Paraíso, município de Cacuaco, com o esposo Joaquim Morais. Ambos vivem juntos há dois anos. Várias vezes tiveram brigas no lar, algumas resultantes de ciúmes. Porém, o assunto tomou dimensões mais alarmantes quando um dia foi visitar a mãe, sem avisar o esposo, e acabou sendo agredida, de forma violenta.

Devido a essa agressão física, deu entrada no Hospital Geral Especializado Augusto Ngangula, onde foi atendida e os médicos a informaram que a criança estava bem. “Foi assustador. Tive medo por mim e pelo bebé”, contou, ao lembrar que na altura o esposo duvidou da palavra e teve de ligar para a mãe, de forma a tirar qualquer dúvida. Até hoje, Maria Helena queixa-se do excesso de ciúmes de Joaquim. Os familiares já a aconselharam a separar-se.

Joaninha Marcelo, de 22 anos, é outra jovem vítima de agressão física. Residente no Sambizanga, há dois anos, com António Banda, disse que o último acto de agressão ocorreu a 21 de Junho deste ano, quando o esposo chegou a casa visivelmente embriagado e não encontrou a refeição desejada. A violência foi tanta, que teve hemorragias e foi levada para o hospital mais próximo. Infelizmente, relembra ainda triste, perdeu a criança. Como era a se-gunda gravidez, preferiu separar-se de Joaquim.

Uma realidade alarmante nos dias de hoje

Os casos de violência contra as mulheres em estado de gestação, pelos companheiros, são uma realidade muito comum nos dias de hoje e têm apresentado um aumento que preocupa bastante a sociedade, em especial a classe médica, devido os riscos que acarretam para a saúde pública.

O Hospital Geral Especializado Augusto Ngangula é uma das unidades hospitalares da capital que tem recebido inúmeros casos de violência física contra mulheres gestantes. A médica especialista em Ginecologia e Obstetrícia, Joice Caíopa, explicou que a violência física durante o período de gestação tende a gerar várias consequências às mães, que correm risco de desenvolver, inclusive, distúrbios alimentares e depressão.

Uma mulher grávida que é agredida fisicamente, explicou, pode ter distúrbios alimentares, sofrer de ansiedade e depressão, colocando em risco a própria vida e a da criança. “O bebé pode nascer com baixo peso”, disse.

Geralmente, explicou, todas as mulheres grávidas que vão até à maternidade, com queixas de terem sido agredidas pelos parceiros, são atendidas e orientadas a fazer participação junto da Polícia Nacional, para dar o devido tratamento, por se tratar de violência doméstica.

Porém, lamentou, nem sempre as ofendidas queixam os agressores, por serem totalmente dependentes deles. “Muitas têm, inclusive, medo de falar sobre o assunto, com receio das represálias, mesmo quando chegam a perder o bebé, devido à agressão”.

A obstetra informou que o Hospital Geral Especializado Augusto Ngangula recebeu, nos últimos anos, vários casos de mulheres com hematomas e lesões diversas no corpo, resultantes de agressões físicas. Os actos de violência física no período de gestação, sublinhou, causam vários danos para a saúde do bebé e da mãe, que corre o risco de sofrer aborto ou ter um parto prematuro.

As consequências da violência contra a mulher grávida, destacou, são devastadoras e devem ser vistas como um mal para a saúde pública. “Estamos a falar de uma mulher grávida que pode sofrer de ansiedade, ou depressão neste período. As complicações são graves. Uma é o deslocamento da placenta e das membranas, até ao sangramento. Para essas situações, há necessidade de se fazer uma cirurgia de urgência, porque tem que operar e estancar o sangue, devido à gravidade da agressão. Dependendo da idade gestacional e, em casos mais graves, é retirado o útero da mulher”.

A agressão psicológica, de certa forma, influencia na saúde da mãe, desde o stress permanente, podendo surgir complicações como distúrbios alimen- tares, ansiedade e depressão.  “Uma mãe ansiosa fica comprometida e não se alimenta bem, não toma medicamentos, deixa de ter vontade de viver e tudo isso é transmitido ao bebé”.

Benguela regista 580 casos de espancamento

Os relatos de casos de violência doméstica têm sido frequentes e são considerados, por Lei, como crime. De acordo com as estatísticas, a província de Benguela registou 580 casos de agressões físicas, por espancamento, incluindo mulheres agredidas pelos maridos.

A agressão física contra mulher gestante se enquadra nos crimes contra a violência doméstica. Esse tipo de crime, disse o porta-voz do Serviço de Investigação Criminal (SIC) de Luanda, carece, primeiro de uma participação da ofendida, para o acusado ser notificado a depor e caso seja o culpado, detido e apresentado ao Ministério Público.

O superintendente-chefe Fernando de Carvalho explicou que, na prática, muitas mulheres vítimas de violência doméstica, se dirigem para as esquadras e piquetes do SIC para apresentar queixa. “Mas, momentos depois, um pouco mais calmas, acabam por retirar a acusação, impedindo que o processo dê sequência. Geralmente, o mesmo indivíduo volta a bater novamente nela. Caso tal situação aconteça, demos continuidade ao processo inicial”, sublinhou, acrescentando que o SIC tem optado pelo diálogo com os casais, de forma a evitar conflitos de género.

Caso específico

Durante os meses de Janeiro até Junho deste ano, o Comando Provincial de Benguela da Polícia Nacional, disse o comandante provincial de Benguela da Polícia Nacional, registou um total de 580 casos de ofensas à integridade física, sendo seis deles com recurso a arma de fogo, 281 por espancamentos, incluindo de mulheres gestantes.

O móbil destes crimes, confirmou o comissário Aristófanes dos Santos, são, na maioria das vezes, desavenças pessoais e questões passionais.

O perigo das ofensas verbais
A psicóloga Domingas Tabu considera todos os actos de ofensas verbais, capazes de depreciar, intimidar, ou ainda criticar constantemente qualquer atitude, uma forma de violência psicológica.

Para a especialista, uma mulher grávida que sofre violência psicológica pode desenvolver alterações psicológicas. “Estando grávida, a mulher gestante pode receber uma descarga hormonal capaz de a deixar fraca emocionalmente”.

O papel do marido, realçou, é dar suporte emocional e garantir a segurança da esposa. “Quando o marido é violento, a mulher fica ainda mais fragilizada, frustrada, o que pode levá-la a desenvolver ansiedade, depressão, baixa auto-estima, raiva, medo e stress pós-traumático”.

Domingas Tabu aconselhou as mulheres que sofrem de agressões físicas a denunciarem e não terem vergonha ou medo de sofrer retaliação por parte da família ou do parceiro, assim como devem procurar ajuda de um profissional de saúde mental.

Fonte: JA

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