Sustento de dezenas de famílias provém das Tranças em Angola

As tranças africanas, que carregam uma bagagem ancestral muito forte, já foram utilizadas como ferramenta de sobrevivência durante o período da escravatura. Mas continuam, ainda hoje, a trazer o significado de sobrevivência, mas como fonte de subsistência para muitas famílias.

Os diferentes tipos de penteado, além dos significados que carregam consigo, para algumas mulheres representam uma forma de protecção e aceitação diante do impacto directo em relação a fenómenos como o racismo estrutural presente nas sociedades, interferindo na auto-estima, segurança e identidade cultural.

“As tranças africanas acabam por ter um papel muito importante na resistência negra contra a escravatura. O cabelo, muitas vezes, era trançado como símbolo de um mapa, com caminhos para os quilombos (local de resistência contra a ocupação colonial portuguesa no Brasil), assim como sementes para serem plantadas, eram as tranças junto do cabelo para serem levadas aos quilombos. Dessa forma, as tranças africanas acabam por ter um papel importante do ponto de vista histórico, tanto para a resistência e sobrevivência das nossas negritudes, quanto da nossa gente.” afirma a académica brasileira Joyce Silva Cardoso, historiadora formada pela Universidade Federal do Rio Grande – Brasil.

Tradição e costumes

Com a chegada dos africanos, forçadamente, ao Brasil, eles trouxeram consigo tradições e costumes das terras nativas. O historiador brasileiro Marcelo Studinski relata que: “Os africanos estão e trazem as tradições dos seus territórios, das localidades em África, seja do Benim, Nigéria, Angola, Moçambique ou Guiné-Bissau, de onde vieram e partiram essas etnias, que foram transmigrados”.

Os hábitos e costumes foram sendo transmitidos de geração em geração. As tranças na terra de origem têm diversos significados como: posição social, status, etnia e crença. De diversas localidades de África, hoje são herança de uma cultura que resistiu para sobreviver.

Fonte de renda

Hoje em dia, fazer tranças, além de transmitir o conhecimento ancestral, é também uma fonte de subsistência para muitas pessoas africanas. As trancistas, como são chamadas quem trabalha especificamente a fazer tranças, é uma actividade que vem crescendo de maneira acentuada.

Brasil, Portugal, Holanda, Espanha, França, Inglaterra, Estados Unidos, entre outros países, fazer tranças africanas tornou-se numa fonte de rendimento para muitas pessoas.

Para Daniele de Souza, jovem de 18 anos, que trabalha há dois anos como trancista dos penteados afros, disse que ganhou o gosto pelas tranças ao olhar a tia, daí despertou a vontade de aprender. Logo depois viu a oportunidade de trabalho.

“A minha tia faz tranças, então ela me ensinou muita coisa, ela fazia em mim e nas minhas primas e eu comecei a ter interesse em aprender e eu aprendi a ‘trança básica’. Vi que tinha talento para fazer isso. Comecei a ver isso como uma forma de trabalho e de ganhar dinheiro. Mas a trabalhar, de facto, com isso, aconteceu em 2019, no ano que comecei a aprender outras técnicas de tranças.”

A linha ténue entre o entrelaçar das tranças do cabelo e o sentimento como auto-cuidado e a reconstrução da auto-estima de pessoas, é uma das principais missões de um (a) trancista, que, este com trabalho, carrega a essência de um passado de muita coragem.

“Amo trabalhar com tranças, pois com o penteado trazemos um grande aprendizado e também nos reportamos para um passado não muito distante onde as tranças eram utilizadas pelos nossos antepassados de diversas formas.

 

Valor histórico

Hoje muitos usam tranças pela estética. Mas, antigamente, a trança era literalmente um meio de fuga da escravidão, pois ao trançar os cabelos uns dos outros, os negros e negras traçavam caminhos para a liberdade”, relata Mari Helena Santos, 28 anos, trancista do espaço Los Santos Hair.

Thauany Vergara, de 23 anos, proprietária do Dandara Tranças e Dreads, não imaginava se tornar trancista, até ter a necessidade de traçar o próprio cabelo, durante o processo de transição capilar, que é um dos motivadores das muitas mulheres e pessoas negras recorrerem às tranças afro.

A transição ocorre quando se deixa de passar química para alisar o cabelo como: progressivas, botox e relaxamentos. “Tenho cabelo natural há mais de 8 anos e na época não era muito aceito. Não era tanta gente que tinha um cabelo crespo. Então, quando eu decidi entrar na transição capilar, eu nem lembrava qual era o jeito do meu cabelo, se ele era crespo ou se era cacheado. Eu só tinha foto, muito pequena, a alisar o cabelo, desde muito cedo. Quando me deparei com cabelo crespo tipo 4C, já me apavorei”, relata.

O processo da transição capilar afecta muito a auto-estima das mulheres negras, pois, o cabelo fica sem forma definida por conta da falta da química e as tranças entram como suporte neste momento. O imagético das composições da cultura afro estão sempre a mudar em relação ao olhar da sociedade, movimentos como Black Power e, recentemente, a Black Lives Matter trazem a necessidade de contemplar para as pessoas negras e as consequências que o racismo na sociedade provoca.

A historiadora Joyce explica que “no que tange as questões relacionada as negritudes, historicamente, o sujeito negro é colocado na sociedade como o outro, mas outro no sentido de não pertencimento, assim, como as suas características e questões que envolvem a complexidade da existência. Nesse sentido, tanto as tranças, quanto outras formas de usar o cabelo, são associadas a sentidos negativos”.

 Com essas mudanças do olhar e a própria apropriação da cultura pelas pessoas negras nas suas comunidades, gerando tendências e movimento no mercado, temos o surgimento da apropriação cultural, que no conceito da antropologia, se refere ao momento em que alguns elementos específicos de uma determinada cultura são adoptados por pessoas ou um grupo cultural diferente.

Para Thauany não importa qual penteado, pode ser uma trança nagô, uma box braids ou um dread, ela tenta sempre levar consciência do significado as tranças possuem para a cultura afro. “As minhas clientes, elas vão estar a levar para fora um acto que elas valorizem isso. Tento conversar quando é relativamente a pessoas brancas, mas agora, quer fazer faz, mas a pessoa tem que entender que não é muito mais que estética”.

 Actualmente, devido à pandemia de Covid-19, que causou mais de 500 mil vítimas, para o exercício das actividades económicas, em geral, é necessário os cuidados com a higiene para não haver contaminação.

Daniele relata a uma preocupação: “actualmente trançar é o meu único meio de renda, porém, como vocês devem saber o meio da beleza, ele de certa forma sofreu um pouco com a função da pandemia, porque as pessoas não se arrumam para ficar em casa, por exemplo, então o meu número de clientes diminuiu em função disso, que é super-entendível por que é um valor para colocar as tranças e as vezes é um valor que a pessoa não tem, mas no momento é meu único meio de trabalho.”

Fonte: JA

Ver mais em: https://www.jornaldeangola.ao/ao/noticias/trancas-africanas-uma-fonte-de-estetica-e-sobrevivencia/

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