No Curoca, província do Cunene, a pobreza tem uma incidência de 98% em todas as dimensões, segundo Instituto Nacional de Estatística.
Aceder ao município do Curoca, vindo da vila sede da Cahama, é uma autêntica dor de cabeça: Para se chegar ao Curoca rasga-se uma picada onde os buracos, pedras e areia branca dificultam – e de que maneira – a locomoção.
Durante a viagem, observam-se crianças na berma do caminho e o gado que, vaidosamente, não teme viaturas que por aí circulam.
O Curoca – um dos municípios da província do Cunene – encontra-se entre as montanhas e é constituído por duas comunas: Chitado e Oncócua, a sua sede municipal com mais de 50 mil habitantes.
A vida no Curoca é muito difícil, conta à DW África, Cataleco António, um morador local que apesar das dificuldades ainda solta sorrisos: “Aqui estamos a passar mal com a fome. Também não há água. Aqui estamos a viver sem nada. Pessoa que não trabalha, vamos fazer como?” A questão fica no ar num município onde, de facto, falta quase tudo.
Além da fome, a estiagem também dificulta o quotidiano dos moradores que dependem apenas da criação de gado para sobreviver.
José Sapalo, também residente local, lamenta o sofrimento por que passa a população. Com o rosto pálido e lábios secos, desabafa: “O dia a dia aqui a questão da seca é que nos preocupa. A seca continua. Algumas partes têm furos e outras partes não tem furos. A questão da fome é o nosso dia a dia.” Furos são o mecanismo encontrado para exploração da água subterrânea porque São Pedro há muito que não abençoa a zona com chuva.
Como combater a fome e a seca?
Segundo um estudo do Instituto Nacional de Estatística (INE), divulgado em 2019, Curoca é o município mais pobre de Angola com uma incidência de pobreza de 98% em todas as dimensões.
Para se minimizar a situação, as populações locais têm beneficiado de transferências sociais monetárias enquadradas no Kwenda, um programa do Governo angolano financiado pelo Banco Mundial.
Eduardo Chilunda, diretor do FAS – Instituto de Desenvolvimento Local – na província do Cunene afrima que mais de seis mil agregados familiares já recebem subsídios: “No princípio era trimestral, 25 mil e quinhentos kwanzas [27 euros ao câmbio atual, nota da redação], mas nesta fase, trimestralmente estamos a falar de 33 mil kwanzas [35 euros ao câmbio atual], e os agregados estão muito felizes porque cada um dos agregados está a receber duas prestações o equivalente a seis meses.”
Subsídios estatais possibilitam pequenos negócios
Os beneficiários fazem pequenos investimentos para rentabilizar os valores recebidos pelo Estado. “Vou comprar massango para comer e cabrito para criar e depois tirar leite para os filhos”, conta-nos um habitante de Curoca.
A administração municipal do Curoca reconhece que a situação da população é difícil, mas avança que há projetos do Governo central e local para minimizar a carência, como explica Manuel Domingos Taby, funcionário do governo local: “O grande problema daqui é o problema da falta de água. Mesmo a nível da sede é através de furos. Nós abastecemos as populações através de furos artesanais, que trabalham à base de energia solar. Enfim, é uma situação muito difícil. Mas existe o projeto do Governo central com a construção da ‘Cova do Leão’ a partir da Cahama.”
Projeto ‘Cova do Leão’
Para minimizar a fome, o Governo está a levar a cabo um projeto agrícola, a que deu o nome de ‘Cova do Leão’, e que consiste básicamente na implementação de hortas comunitárias.
Manuel Domingos Taby explica: “Para esses trabalhos contamos com apoio de algumas organizações não governamentais. Queremos sensibilizar e educar as populações. Queremos dizer-lhes que não basta estender a mão, devemos também ter uma pequena produção, uma pequena horta. É o que temos estado a fazer. E as pessoas estão aderindo aos poucos.”
Fonte: DW
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