O caso chocou a população no Cuando Cubango. Há duas semanas, os bombeiros encontraram um recém-nascido, sem vida, sobre uma ponte no rio Kwebe.
“Estava dobrado num pano, dentro de um saco e, com o ondular, este saco foi se desfazendo. Daí, o cordão umbilical soltou-se e deram conta que se tratava de um recém-nascido”, conta Albano Cutarica, porta-voz dos Serviços de Proteção Civil e Bombeiros.
Não foi o primeiro caso este ano. “De janeiro à data presente há quatro casos que envolvem recém-nascidos e fetos. Dos quatro casos, dois ocorreram em espaços aquáticos, um num contentor de lixo e outro foi depositado num terreno baldio. Isto começa a preocupar os Serviços de Proteção Civil e Bombeiros”, afirma Albano Cutarica.
A psicóloga Isidéria Conde considera que este é um problema grave, que tem de ser resolvido urgentemente. “Quando mulheres chegam a este ponto… Primeiro, começa pela intenção de abortar e, depois de dar à luz, querem livrar-se dos bebés. A pergunta que se faz é o que se passa nas cabeças destas meninas? Que tipo se educação se está a passar nas famílias, nos meios de comunicação social e outros agentes sociais?”, questiona.
“Clínica Jovem” para combater a gravidez precoce nas escolas
A pobreza é, muitas vezes, apontada como uma das principais causas para o abandono de bebés e crianças. Estudos assinalam também como motivos a falta de planeamento familiar e a pressão para esconder gravidezes precoces ou indesejadas no seio de algumas famílias.
“Se pararmos para analisar, isto é apenas uma consequência de algo que já começou a acontecer há algum tempo, estamos a falar de uma crise de valores morais e cívicos”, conclui a psicóloga Isidéria Conde.
Riscos da gravidez precoce
Em entrevista à DW, a diretora do Hospital Materno Infantil do Cuando Cubango, Sandra Iyani, mostra-se também preocupada com os casos de gravidez precoce na província. Só nos primeiros três meses deste ano foram atendidos mais de 90 casos de gravidez entre os 14 e os 17 anos de idade. No ano passado, foram registados 231.
A médica alerta que a gravidez nesta idade acarreta bastantes riscos. “São adolescentes e estão numa fase de desenvolvimento. As complicações que temos encontrado no momento do parto é mesmo a desproporção cefalopélvica, em que a pelve [materna] ainda não está bem desenvolvida para poder entrar em trabalho de parto. Muitas delas terminam em cesariana”, conta.
Numa gravidez precoce aumenta o risco do bebé nascer prematuro ou com baixo peso. As complicações no parto podem inclusive levar à morte do bebé, da mãe ou de ambos. É por isso que, segundo a psicóloga Isidéria Conde, é essencial informar os jovens e falar sobre os riscos e sobre planeamento familiar.
“A base para o desenvolvimento de uma sociedade e dos homens que fazem parte dela é sempre a educação, incutir na cabeça destes jovens que, quando se envolvem com uma mulher de forma desprotegida, o que advém daí. As famílias principalmente têm que prestar maior atenção aos seus filhos, homens e mulheres”, defende.