Angola apresenta um quadro desafiador no que respeita a literacia digital, dizem analistas que referem que embora se tenham registado melhorias, maior expansão e abrangência dos serviços de telecomunicações no país, tais serviços não têm sido acompanhados de suficiente informação para os utentes, a fim de que estes se possam prevenir de crimes informáticos.
Para o engenheiro informático e especialista em ciber segurança Alexandre Kapita, para o sistema de informação nacional as burlas constituem uma “grande provocação”.
Quem vive nas zonas urbanas é mais afectado devido ao maior número de cidadãos que usam meios e equipamentos digitais e informáticos, mas também por razões ligadas à falta de informação sobre os sinais de prática de burla, afirma Vilma Pedro, gestora de projectos.
“Os casos têm uma maior incidência nas zonas urbanas porque temos maior conhecimento, habilidade e usamos com mais frequência os canais de pagamentos digitais. Nas zonas rurais também se registam alguns casos, mas claramente por causa do desenvolvimento as populações das zonas urbanas são os mais afectados, porque desconhecem formas de se proteger”, referiu a responsável do projecto que visa consciencializar a população sobre as melhores práticas de uso de canais digitais.
“As empresas detentoras de serviços telefónicos têm também a incumbência de irem disseminando a informação para prevenir os cidadãos e implementarem medidas rígidas de acesso aos números, fazendo-se um registo efectivo que poderá facilitar a localização de possíveis burladores para além de implementar mecanismos de segurança para prevenir burlas informáticas e digitais”, alertou Vilma Pedro.
A especialista explicou que “o caso de burla mais comum é o da simulação que consiste em os burladores ligarem para determinados cidadãos fazendo-se passar por funcionários de instituições credíveis e conhecidas, mentem que o visado ganhou um prémio, mas que para ter acesso ao mesmo o cidadão deve dar algum valor. Uma das maiores fragilidades da população em relação as burlas digitais é a falta de informação”.
Quem já foi vítima de burla narra na primeira pessoa o modus operandi de alguns burladores que se escondem muitas vezes nas vestes de empresários. Domingos Pascoal e Sandro Casimiro referem que as práticas variam desde chamadas solicitando a actualização da conta bancária à simulação de anomalia nos terminais de pagamento automático em alguns estabelecimentos comerciais.
“Entreguei o cartão multicaixa a fim de fazer o pagamento de alguns bens que adquiri, por meio do terminal de pagamento automático. O senhor pôs-se a girar a loja e depois regressa dizendo que devia repetir a operação por conta de uma anomalia. Repeti e recebi o recibo. Algum tempo depois, consultei a minha conta numa outra caixa electrónica e notei que foi feito o desconto da primeira operação. Fui para loja e reclamei. Ele rejeitou afirmando que apenas fez uma operação de desconto. Fui ao banco e recebi o nome do estabelecimento que fez o desconto, pelo que, fui aconselhado a ir à polícia. Assim o fiz, a polícia acompanhou-me. Ele reconheceu o que fez, pediu desculpas e devolveu os valores”, explica Domingos Pascoal.
As fraudes electrónicas podem ter como ponto de partida a fragilidade do sistema de protecção de dados de algumas operadoras de telefonia móveis, de instituições bancárias e outras, diz o Jurista José Ndimba Candeeiro.
Candeeiro afirma por outro lado que em caso das burlas ocorrerem por culpa da vulnerabilidade dos sistema informáticos de tais instituições, os cidadãos se devem socorrer da lei do consumidor para exigir a reparação dos danos, a fim de verem ressarcidos os seus direitos anteriormente violados, conforme indica o artigo 37 da Constituição da República e na Lei do Consumidor nos artigos 10, 11 e 12.
“É fundamental que o Estado aumente os mecanismos de prevenção e combate contra as burlas digitais”, diz o especialista em ciber segurança, Alexandre Kapita, para quem a capacitação em matéria de literacia digital é fundamental para população.
“A iliteracia e o analfabetismo, com a falta de habilidades de leitura e interpretação de informações estão em parte entre as razões do alto número de cidadãos vítimas de burlas. Por esta razão, investir na segurança e na informação da população angolana é urgente para prevenir a ocorrência de esquemas fraudulentos”, diz Vilma Pedro Gestora de Projectos da The Bridgeglobal, instituição gestora do projecto “Cidadão Digital”.
“O analfabetismo é uma parte significativa que contribui para que muitas pessoas caiam em esquemas fraudulentos. A falta de habilidade de leitura, escrita e compreensão básica torna as pessoas vulneráveis para cair em golpes financeiros”.
Fonte: VOA
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