Dezembro, a três dias do fim, foi pródigo em coincidências, cada uma delas capaz de submergir razões que elas próprias esquecem, mas, paradoxalmente, emergem alienações fomentadas por causas imitadoras de gatos escondidas com rabos à mostra.
Dezembro, prestes a acabar, foi, como todos os outros que o antecederam, apenas o culminar de um ciclo que amontoou alegrias e tristezas, justiças e injustiças, progressos e retrocessos, concórdias e discórdias, discriminações e solidariedades, mentiras e verdades, intenções e factos, guerras e tréguas. No fundo, com o mesmo cenário, mais ou menos sofisticado, que caracteriza a humanidade desde o princípio dos tempos, independentemente do nome que lhe derem, do calendário que o abrigue.
O ciclo, prestes a acabar, pode a alguns parecer mais agitado, quando, na verdade, realmente, são as novas tecnologias de comunicação a tornarem instantâneo o que, não há muitos anos, demorava a chegar ao conhecimento da maioria dos mortais. Designadamente, factos que causam sofrimento ou alienação. Dezembro, este que no domingo se despede, apenas culmina um ano semelhante, na generalidade, a tantos outros, com poderosos a disputarem supremacias e desvalidos a tentarem sobreviver, num mundo no qual são maioria.
A velocidade das novas tecnologias de comunicação, em permanente desenvolvimento, faz com que as desgraças que atingem a humanidade nos entrem abusivamente em casa e, ainda, por cima – ou por baixo? – tenhamos de pagar por isso. E este é somente um dos exemplos da prepotência dos poderosos. Escolhem o que devemos ver e saber nas versões que lhes convém.
O actual conflito armado entre a Rússia e a Ucrânia, iniciado em 24 de Fevereiro, espelha, na perfeição, a dualidade de critérios de alguns dos arvorados em senhores do mundo e de quem os serve. Parte substancialmente dos que ouvem rádio, vêem televisão, lêem jornais e revistas, nem que sejam as gordas, são vítimas de discriminação por não lhes ser dada a possibilidade de compararem versões diferentes. As notícias, frequentemente misturadas com opinião, logo tendenciosas e violadoras dos princípios básicos do jornalismo ganham, cada vez mais, seguidores e servidores.
Os objectivos são claros e os alvos também. Os menos informados, independentemente das causas – pouca escolaridade, simplesmente desinteresse pela política na verdadeira acepção da palavra, alienação – são as maiores vítimas da estratégia, mas, paradoxalmente, alguns dos defensores e propagadores do que ouvem, vêem e lêem. Até para “se darem ares” de sabichões, quando, no fundo – pouco fundo -, não passam de papagaios.
Verdade inquestionável é os cultores da parcialidade num assunto de dimensão tão grande e sensível como o do conflito entre Rússia e Ucrânia, andarem há anos “esquecidos” de dramas semelhante noutros pontos do globo habitados, convém avivar mentes esquecidas por por seres humanos.
África é palco de horrores inenarráveis, desde as chegadas dos primeiros invasores designados civilizadores apostado, na verdade em destruir civilizações mais antigas do que as deles, pilhando-lhes solos, subsolos, mares e e rios . Posteriormente, com o prosseguimento da pilhagem de riquezas chamadas trocas comerciais quase sempre feita em balanças de dois pesos a pender para um dos pratos e de outras tantas medidas de dimensões opostas.
Dezembro encerra um ciclo dentro de dois dias, cansado, certamente, de tantas desigualdades que foi obrigado a ver. Ao ano prestes a brotar corre o risco de lhe suceder o mesmo, a não ser que os senhores da guerra, aqueles que beneficiam com ela desapareçam. Mas isso é pedir muito.
Fonte: Jornal de Angla
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