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Para os pequenos empreendedores não é fácil crescer em Angola

Muitos jovens partem por iniciativa própria à conquista de um quinhão do mercado, para fazer valer os seus argumentos e colocar comida na mesa. Profissões liberais, que dão para trabalhar a solo, à espera de uma reconversão para a economia formal, fazem parte do pacote, que mexe com empreendedores, com espaço definido, matéria-prima para a sustentabilidade e, inclusive, sonhos para altos voos, quiçá mais algum para o cofre pessoal e… para frente é o caminho, contando que outros jovens com talento nato, mas ainda por “lapidar”, porque escondidos, sejam igualmente companheiros de rota.

Para os empreendedores não é fácil crescer e aparecer. Difícil ainda se torna dar a cara e vingar num mercado concorrido, com regras bem definidas, onde a qualidade do trabalho fala alto. Caminham ainda sem a bengala de apoio de bancos. Anónimos, até ver. Acreditamos que um pouco por todo o espaço nacional sejam aos milhares, daí que uma vez reconvertidos para o sistema formal, seriam mais um contributo para o “saco azul” de todos nós.

Os jovens têm um denominador comum: trabalham em sítios arrendados; um elo forte, a determinação de vencer; um sonho, singrar na vida, ter espaço próprio e independência financeira. À primeira vista são bons no que fazem e têm conhecimento que existem muitos jovens com talento à espera de um sopro, para saírem do casulo e aparecer.

 Artista a tempo inteiro

Daniel Neves de Almeida Barros, jovem de 21 anos de idade, natural do Sambizanga, dedica-se ao artesanato em Cacuaco, na vertente cestaria com junco. O artista, que não descende de uma família de artesãos, começou aos 18 anos de idade, com um curso de formação prático, numa das escolas de artes e ofícios ao Morro da Luz, em Luanda, onde esteve durante cinco anos. Revela o talento angolano, que é igualmente músico, declamador e actor de teatro.

“Comecei como formando, depois gerente e agora estou no ramo privado, no qual dirijo o meu próprio negócio. O que mais faço são cestos, cadeiras e mesas, mas na minha actividade tenho que ser versátil e já trabalho em cobertura com junco em armações em ferro para cadeiras e cadeirões”, disse, informando que “este material, o junco, não existe em Luanda. Temos que mandar vir de Malanje, Uíge, Moxico e Cabinda, a famosa mbamba”.

“Estou aqui em Cacuaco há seis meses e consegui ganhar um fluxo de clientes que não esperava. Estou a receber muitas encomendas, como cadeirões, baloiços. Já fomos contactados para fazer cestos para as oferendas do Dia dos Namorados. Isto motiva e estimula-nos a emprestar mais qualidade aos nossos produtos, satisfazendo os clientes”.

Daniel Neves reconhece que tem mercado para o que faz, “actualmente vejo algum poder de compra. Jovem como sou, enfrento a concorrência e consigo endireitar as coisas nesta profissão que escolhi”, acredita, lamentando que “não tenho participado de feiras e outros eventos para publicitar o meu trabalho. Mas não me sinto complexado pelo facto”.

O entrevistado está num período produtivo exigente, por isso conta com o concurso de quatro colaboradores jovens, ainda em fase de aprendizado, “eles estão comigo da manhã até ao meio dia. São aulas grátis para jovens dos 15 anos para baixo e para as raparigas acima dos 20 anos pagam uma taxa simbólica. Faço isto para que a nossa cultura tenha continuidade”.

Quanto ao futuro, o fazedor de arte sonha em produzir uma obra icónica, a exemplo do Samanyonga, o pensador Tchokwé, conhecido nos quatro cantos do planeta. E acalenta um objectivo em termos acadêmicos, “terminar uma licenciatura em artesanato ou em artes”, adianta Daniel Alves, que tem frequência do primeiro ano de Direito. O jovem aconselha a juventude a “sair do casulo para materializar os sonhos e partir para o empreendedorismo, para ser dono do próprio espaço, do próprio trabalho, pensar positivo e colocar comida na mesa”.

 Torcer o “pepino”…

Leonor Dongala Nunes é outra jovem empreendedora que aceitou os desafios de caminhar a solo e dá o melhor de si para conquistar o nicho de mercado que Caxito oferece. “Sou modista. Faço o meu trabalho de corte e costura há dez anos”, informa, revelando que a profissão escolhida é seguimento de um exercício que faz desde tenra idade, “quando menina sempre me inclinei para brincadeiras com bonecas. Coser os vestidinhos delas, calções para os bonecos, mantê-los com higiene e bonitos, fazia parte de mim.”

Na infância era curiosidade e capricho. Hoje, na casa dos 30 afirma que “o mundo está muito criativo e, nisto, aprendi a desenhar e o corte e costura com um mestre, mas não parei por ali. Tirei um curso nesta especialidade”, confirma Leonor Dongala, que como empreendedora recorre aos armazéns para aquisição da matéria-prima, indispensável para as necessidades diárias.

Hoje, Leonor Dongala está como peixe na água na profissão escolhida e autêntico ganha-pão. “Trabalho peças femininas, masculinas e infantis. Faço calças, camisas, vestidos, saias, entre outros”, dá a conhecer a costureira, que, quanto a preços, informa que dependem da qualidade do tecidos e da obra em si. “Tenho preços dos cinco aos 20 mil Kwanzas. Pelo tempo e experiência, tenho mercado em Caxito”.

Quanto a outro factor de produção, a máquina de costura, a interlocutora sente-se radiante porque no início foi agraciada com uma pelo irmão. “Hoje já consegui a segunda… assim já posso contar com uma ajudante. A minha luta hoje reside na aquisição de um espaço próprio, porque pago renda mensal de 25 mil kwanzas, pelo sítio onde trabalho”.

No mundo da moda e da reciclagem

Nkiambi Henriques, de 24 anos de idade, natural do município do Bembe, no Uíge, é, de algum tempo a esta parte, modelo fotográfico, incentivada por um profissional que notou nela talento natural e potencial para dar cartas nessas lides. A menina das artes tenta ainda a sorte na variante fashion, que tem de palco as passerelles, com desfiles de moda à mistura. A interlocutora elucida que no mundo da moda as compensações financeiras são por actividade e “dá sim, para pôr comida na mesa”.

Estar na alta-roda não se afigura fácil para a modelo. O pendor religioso é vincado nela. “Venho de uma família devota e tive que balancear os dois mundos e, percebi que posso fazer parte dos  dois sem ultrapassar os meus limites. A partir daí entrei numa agência de modelos em Luanda, no bairro Uíge, onde consigo conciliar  a arte e religião”.

A modelo, que é igualmente cabeleireira, com um espaço em Caxito, adianta que muitos jovens não vêem com bons olhos esta variante profissional, “há ainda algum tabu em torno desta actividade, porque algumas modelos apresentam-se com alguma nudez. Muito pelo traje ousado, que por vezes vestem, faz com que a área seja comparada com antro de prostituição”, disse, informando que “estando deste lado do mundo, o olhar é diferente dos que estão do lado de fora”.

No métier escolhido, Nkiambi (que no kikongo significa: qual é o mal?) Henriques empenha-se de corpo e alma, porque é bastante competitivo e “ninguém quer mostrar a sua fraqueza. Todo o mundo quer mostrar que é capaz, que pode e consegue”, revela Nkiambi Henriques, cujo maior sonho é chegar o mais longe possível, “ali onde Deus permitir que eu chegue. Para os jovens que se mostram acanhados, desafio-os a saírem do espaço de conforto e mostrarem o talento escondido ao mundo, ajudando a si e a terceiros”.

Outro jovem ligado à imagem e boa aparência é Pascoal Jorge, o “Lesta” como é conhecido por Cacuaco, devido a técnica e perícia no corte de cabelo. Barbeiro de fina fibra, do alto dos seus 32 anos de idade tem clientes de vários estratos sociais, de famosos a crianças de tenra idade escoltadas pelos pais.

“Lesta” começou a trabalhar em 2005, com 18 anos de idade. Hoje alimenta a família com o que faz. “Dá para pôr comida na mesa e pagar o colégio do filho. Cobro de 700 a 500 kwanzas por cliente, que tenho quanto baste. Infelizmente não tenho espaço próprio, estou em aluguer e pago 13 mil kwanzas por mês para colocar os meus dotes profissionais em dia”, informa o entrevistado, que sonha com um espaço próprio para desenvolver a arte que faz.

 Reciclar e reabilitar

Victorino Domingos é mestre em reciclar material plástico. Pratica cestaria em Caxito. Aprendeu sozinho o que faz, por mera curiosidade e vontade de vencer o stress. Hoje o que faz é o seu o ganha-pão. “Em 2017 rompi o meu vínculo com a associação onde trabalhava, tinha muito tempo livre e nada a fazer, daí procurei uma forma de me ocupar. Cresci a fazer música, na altura não tinha uma guitarra e decidi fazer arte manual”.

Todos os dias úteis Victorino, sentado à sombra de uma acácia de espécie americana, no largo público próximo ao Gabinete Provincial dos Antigos Combatentes, trabalha e faz reciclagem de fitas plásticas que dão consistência aos balões, ao produzir cadeiras, cestos para roupa, para compras, esteiras, revestimentos de garrafas; artefactos parecidos aos feitos com junco e bordão. Confessa que com algumas falhas, dá para pôr comida na mesa. “Este vaso que está em produção custa cinco mil kwanzas. Os meus preços variam de 100 kwanzas a 12 mil kwanzas, dependendo da complexidade das peças. Devido à velocidade do trabalho, lento por natureza, tenho clientes, quanto baste, que compram o que faço”.

O artesão aproveita da melhor maneira o material plástico, reciclando-o, contribuindo desta forma para dar valor a um poluente do ambiente. “A actividade é uma mais-valia para o ambiente. Não procuro muito pela minha matéria-prima. Algumas recebo-as de doações. O material branco, compro”, garante o jovem de 37 anos de idade, que sonha em colocar o que faz num atelier. Contudo, enquanto trabalha, tem a responsabilidade de passar a experiência aos mais novos. “Já tive muitos aprendizes que hoje são independentes, que já trabalham cada um por si”.

No que toca ao trabalho de reabilitar mobílias de diferentes tipos, para um novo visual, Mbuasikidi Miguel é dono e senhor da “arte”. Natural de Maquela do Zombo, no Uíge, começou aos 27 anos de idade, em 2002, sob o olhar de um mestre que o encaminhou para as lides do trato da madeira, contraplacado, revestimentos de panos, napa e cabedal para dar outra imagem e colorido a diferentes variantes de móveis.

Hoje, o mestre, como é carinhosamente conhecido em Cacuaco, à entrada do bairro 4 de Fevereiro-Ecocampo, dá cartas e alegrias aos diferentes clientes que batem à porta do espaço alugado onde trabalha, para a encomenda de mobílias. “Este é o meu ganha-pão. Trabalho ao gosto do cliente. Para além desta actividade, dou um empurrão aos quatro rapazes que estão comigo. Um deles já o considero mestre”, sentenciou.

Fonte: JA

Ver mais em: https://www.jornaldeangola.ao/ao/noticias/luta-dificil-para-crescer-e-aparecer/

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