Preços baixos provocam afluência de clientes no mercado do Sabadão em Luanda

Isabel Neves, 42 anos, arrumava de forma cuidadosa as compras na carroçaria da viatura. De tão cheia que estava, quase já não cabiam as hortaliças e os legumes. Casada e mãe de quatro filhos, Isabel Neves, que reside na Cidade do Sequele, quinzenalmente assina o “ponto” no “Sabadão”.

Ela justifica a sua atitude por ser um mercado que compensa, comparativamente ao Mercado do 30. Para se ter uma ideia, diz, os produtos são frescos, nutritivos e sem quaisquer conservantes.

Fiel cliente do mercado, Isabel Neves acredita que os preços são acessíveis pelo facto de existirem inúmeras fazendas nos arredores. Apesar da distância, ela aconselha os residentes da província de Luanda a visitar o “Sabadão”, pois com 10 mil kwanzas é possível comprar verduras, legumes e frutas a “preço da igreja”.

António Nunes, 50 anos, comunga o mesmo pensamento. Trajado com camisola interior, calção, chinelo e chapéu à cabeça, encontramo-lo sentado numa cadeira de madeira a apreciar o movimento no mercado enquanto a sua esposa fazia compras. Embora resida no município do Cazenga, onde tem bem próximo de si o Mercado dos Kwanzas, António Nunes prefere fazer as compras no “Sabadão”.

“O que faz vir até aqui é a vasta gama de produtos e os preços que são comercializados. Todos os sábados venho acompanhar a mulher a fazer compras porque os produtos são frescos e de primeira qualidade”, disse António Nunes, sublinhado que estamos constantemente a comer produtos transformados com químicos que só prejudicam a nossa saúde, por isso aconselho as pessoas a visitar o “Sabadão”.

Por incrível que pareça, até mesmo nos dias úteis da semana, quando sente vontade de comer verduras, uma batata ou mandioca, António Nunes recorre ao “Sabadão” para satisfazer a sua vontade.

Atraídos pelos preços baixos, é impossível para muitos clientes ficarem indiferentes à oferta de produtos agrícolas no “Sabadão”, e, particularmente, à verdejante exposição que é característica no sector das hortaliças.

No conhecido mercado da comuna Funda, em Cacuaco, os preços justificam por si só, a clientela, que começa a chegar ao local a partir 7h00 da manhã. São na sua maioria donas de casa em busca de produtos para refeição diária, da semana ou do mês. É a partir das 13h00 que o mercado atinge a maior movimentação de clientes, na sua maioria provenientes dos bairros Vidrul, Prédio, das centralidades do Kilamba e do Sequele, Viana, 30, Golf II, Catinton e Calemba II.

Moradora no bairro da Vidrul e cliente assídua do mercado, Marta Magalhães não se cansa de enaltecer a tabela de preços. “Aqui os produtos são de qualidade e mais baratos em comparação com os outros mercados de Luanda”, afirma.

Em outras palavras, os preços dos produtos do campo, desde a batata-rena e doce, cebola, tomate, quiabo, cenoura, berinjela, couve e outros encontrados no “Sabadão”, levam Marta Magalhães a deslocar-se frequentemente ao local para adquirir os alimentos necessários.

O Jornal de Angola constatou que o mercado oferece uma gama diversificada de produtos do campo, pescado e outros, desde verduras, legumes, frutas, cacusso e o bagre. Por outro lado, para quem não dispõe de transporte próprio a sugestão passa por se fazer transportar de táxi, pois existe em vários pontos da cidade rotas directas até ao mercado.

Modelo diversificado de atendimento

Um dos aspectos que facilita o comércio no “Sabadão” é o próprio modelo de atendimento. Por exemplo, quando inadvertidamente, em tom alto, uma das repórteres lamentou o facto de ter ido ao mercado sem dinheiro físico a resposta na voz da tia Santa, uma das vendedoras, foi imediata: “Não tem problema, temos TPA (Terminal de Pagamento Automático), é só riscar”. Satisfeitas com o esclarecimento de tia Santa, as duas repórteres do Jornal de Angola não resistiram a encarnar o espírito de clientes. Em pouco tempo, faziam-se transportar com sacolas carregadas de vários produtos, tanto é que tiveram de solicitar o auxílio de um “carroceiro” para ajudá-las a levar as compras até ao carro.

Reza a história que no bairro Caope, na comuna da Funda, havia uma área onde habitavam camponeses que apenas realizavam o comércio aos sábados. Por este motivo, segundo alegações dos próprios vendedores, o local foi baptizado com o nome “Sabadão”. Até 2017, devido às constantes inundações e o lamaçal que se verificavam no interior do antigo mercado sempre que chovia, boa parte dos comerciantes que agora vende no mercado tinha sido transferida do bairro Caop Velha pelo então administrador municipal de Cacuaco, Carlos Cavuquila.

Com a transferência do mercado para o município de Cacuaco, o responsável da área administrativa, Alberto Catumbela, realçou que as autoridades decidiram manter o nome. Entretanto, foram feitas algumas alterações. Por exemplo, hoje o mercado funciona de segunda a sábado, no período das 8 às 18 horas, e o mesmo congrega camponeses, comerciantes, entre outros.

Além de realçar que o mercado atrai clientes de vários pontos da cidade capital, Alberto Catumbela reafirmou que se trata de um dos maiores pontos de escoamento de produtos agrícolas, com preços mais baixos, comparativamente a outros mercados.

“Em relação à taxa de pagamento das fichas, cada vendedor paga um valor entre 100 e 300 kwanzas por dia, dependendo do espaço que ocupa”, disse.

Quotidiano dos “carroceiros”

Sentado no carro de mão que lhe serve de instrumento de trabalho, André da Silva, 30 anos, conversava com o colega de ocasião sobre as “malambas” da vida. De calça jeans, t shirt e um par de chinelo consumido pelo tempo, André da Silva, que exerce há três anos a actividade de “carroceiro” ou “roboteiro” no “Sabadão”, conta que o sábado consta dos dias mais lucrativos por causa do fluxo elevado de clientes.

Pai de primeira viagem, André da Silva diz que os preços no mercado são acessíveis e todos os dias consegue levar farinha de bombó ou de milho e verduras para casa. A sua jornada laboral inicia às cinco horas da manhã e encerra por volta das 15h00.

“Pago uma taxa de 150 kwanzas, sendo 100 para exercer o trabalho dentro do mercado e 50 para a taxa de lixo”, disse André da Silva, enquanto empurrava o carro de mão à procura de clientes.

Félix Júnior, por sua vez, seguia minuciosamente cada cliente, demonstrando total disponibilidade para levar a carga em troca de recompensa financeira. Apesar da sua baixa estatura, o jovem não se deixava intimidar pela concorrência dos colegas de estatura mais elevada. Sem muito esforço conseguiu convencer uma cliente que ele era necessário e ideal para transportar as mercadorias que a mesma se preparava para comprar.

Durante o diálogo com a reportagem do Jornal de Angola, Félix Júnior contou que está sem estudar, há dois anos, por dificuldades financeiras, motivo que o levou a trabalhar com o propósito de juntar dinheiro e posteriormente dar seguimento aos estudos.

Construir uma casa para a sua mãe, é outro sonho que o jovem Félix pretende ver realizado. A par disto, salientou, também decidiu trabalhar para obter valores a fim de poder suprir algumas necessidades pessoais que os pais não lhe podem dar.

O valor do serviço que presta varia entre 200 e 500 kwanzas, dependentemente da quantidade da carga. Vezes há em que encontra pessoas que pagam mil kwanzas, de livre e espontânea vontade, pela carga.

Em busca do ganha-pão

À entrada do mercado, os clientes são interpelados por jovens que oferecem serviços como guias, carregadores de compras e vendedores de sacos. Entre eles, a concorrência é bastante elevada.

Munidos de sacos de vários tipos e cores nas mãos, e outros amarrados às costas em forma de trouxa, Salomé Jamba, 26 anos, tinha os pés sujos de terra e as pestanas empoeiradas de tanto correr atrás dos clientes, na esperança de vender sacolas. Natural da província de Malanje, Salomé Jamba teve de se deslocar a Luanda em busca de melhores condições de vida.

“Quando cheguei em Luanda, comecei a trabalhar como doméstica, mas desisti por causa dos maus tratos que sofria de algumas patroas. O salário não chegava para nada. Não conseguia fazer nada e por vezes nem sequer pagavam”, disse.

De modo a obter uma fonte de sustento, Salomé Jamba, que é mãe de uma menina, aceitou o convite de uma vizinha para vender sacos no mercado. Apesar de não ser este o caminho que sonhou, quando o relógio marca seis horas da manhã, a jovem fazia-se à estrada para enfrentar mais um dia que, regra geral, é consumido com oito horas de trabalho pesado.

“Com o valor que ganho consigo retirar o dinheiro para o jantar do dia e, ainda, fazer uma poupança”, fez saber Salomé Jamba.

Enquanto contava parte da sua trajectória, os seus olhos “brilhavam” quando falava do sonho de continuar os estudos e se tornar uma técnica de análises clínicas. “Nem sempre conseguimos o que desejamos no momento, mas, com o tempo e persistência, almejamos os nossos sonhos”, realçou.

Vendedoras na primeira pessoa

Madalena Antónia, 48 anos, vende tomate em grandes quantidades no mercado há cerca de cinco anos. Moradora no bairro da Vidrul, nas imediações dos bombeiros, contou que passou a vender desde quando contava apenas 16 anos, devido às várias necessidades que passava enquanto vivia com os pais.

Mãe de cinco filhos, explicou que teve passagem pelo mercado do Kikolo. Sem qualquer formação, “por ser a filha mais velha e ter o pai na condição de desempregado e cego”, viu-se obrigada a fazer algo para ajudar a mãe que até então zungava petróleo por Luanda adentro.

Sorridente e orgulhosa com o seu percurso, Madalena António contou que conseguiu formar os filhos e mudar de vida graças ao dinheiro da venda do tomate. Para ela, enquanto estiver viva nada está perdido.

Percurso totalmente diferente tem Josefina Mungongo. Filha de camponeses, que vende frutas desde que o mercado foi fundado. Por conseguinte, carrega consigo enorme experiência. Com pés empoeirados e pano enrolado à cabeça, atendia os clientes com bastante satisfação.

Sentada de defronte a sua bancada, e trajada de “bubú” africano, colã preto e uma “quilera” à volta da cintura, Santa Calenje, que vende legumes no mercado há 22 anos, é dona de um humor contagiante.

Tia Santa”, como é carinhosamente tratada, afirmou que nasceu para vender no mercado. Relativamente ao horário de venda, fez saber que depende dos dias, mas varia entre cinco e seis horas. Em tom de brincadeira, referiu que, quando amanhece, tem vezes que tem de pular o marido e lhe dizer para ficar calmo. “Digo-lhe para ficar calmo, que estou a bazar garantir o pão das crianças”.

Os produtos que comercializa chegam da Quilunda, Terra Branca, Cuanza-Sul e Huambo. “Nos dias de compra tenho de vir ao mercado mais cedo”, disse tia Santa, que ao longo da conversa revelou que o seu segundo filho frequenta a faculdade, graças ao dinheiro das vendas. “O meu sonho é ver todos os meus filhos formados e bem empregados”, almeja.

Fonte: JA

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