Restos de alimentos continuam a ser solução para matar fome das famílias angolanas

Apesar de o Governo ter anunciado a proibição de importação de pontas de asas, carcaças, rabinhos de frango e de peru, os produtos continuam a ser a base alimentar de muitas famílias por terem preços mais acessíveis.

Com a subida dos preços dos produtos da cesta básica, as carcaças e partes menos nobres do frango continuam a fazer parte da base alimentar das famílias. Ou seja, passados quase dois meses depois de o Governo anunciar o fim da importação de pontas de asas, carcaças, rabinhos de frango e de peru, a venda destes produtos continua espalhada por quase todos os mercados e supermercados de Luanda, o que garante a base alimentar das famílias com menos possibilidades.

Esta segunda-feira, o Expansão andou pelos vários mercados e armazéns de Luanda e constatou isso mesmo. No mercado dos Congoleses, por exemplo, cinco unidades de carcaças de frango estavam a ser comercializadas a 500 Kz, os pedacinhos de pontas de asas variavam entre 500 e 1.000 Kz, dependendo do tamanho, e o rabinho entre os 250 e os 500 Kz, de acordo com a quantidade comprada, que é medida por montinhos.

Os mesmos preços são praticados nos mercados do São Paulo, Asa Branca e dos Kwanzas.

Mas há quem opte pelos mercados formais. Por exemplo, no Kero dos Combatentes não há carcaças de frango, mas há pontas de asas e a embalagem custa entre os 1.000 e os 1.200 Kz, dependendo da quantidade.

Já quem compra a grosso num armazém de frescos, a caixa de carcaças de frango de 10 kg custa 9.800 Kz, as pontas de asas são comercializadas a 20.500 Kz, os rabinhos de frango a 12.550 e os rabinhos de peru a 16.500 Kz. “A maior parte dos nossos clientes que compra a grosso são vendedores ambulantes”, revelou o gerente de um armazém na Rua das Pedrinhas, nos Congoleses.

Acessíveis e fáceis de encontrar

Cidadãos ouvidos pelo Expansão revelaram que têm apetência por estes produtos, por causa do preço que é acessível e da facilidade em os conseguir. “Está ao alcance de quase todos. O preço é acessível e compra-se em qualquer sítio, tanto no mercado formal ou informal e até em ruas onde existem pequenas pracinhas é possível adquirir estes alimentos”, disse Alex Vunge, um dos clientes que o Expansão encontrou no mercado dos Kwanzas.

Rosária Armando é responsável de uma família de seis membros. Avançou que com um pacote de asas ou de carcaças de frango consegue alimentar os cinco filhos. “Muitas vezes, quando tenho pouco dinheiro e sem grandes ideias para o cardápio, recorro às partes do frango”, avançou.

Em Maio deste ano, o Ministério da Indústria e Comércio chamou os importadores de carnes congeladas para alertá-los sobre as preocupações com as denúncias públicas que tem recebido relativamente à venda destes produtos.

Durante o encontro, a directora Nacional do Comércio Externo, Augusta Fortes, lembrou aos importadores de carnes congeladas que estes produtos estão a causar “inquietações morais” à população e, além disso, fazem parte dos produtos cuja importação está proibida.

Razões ambientais e morais

De acordo com o artigo 75 da Pauta Aduaneira, publicado em Diário da República, “a proibição de importação de mercadorias pode fundamentar-se em razões ambientais, de moral, de segurança, de subversão da ordem pública, ou a necessidade de protecção da vida humana, da fauna e da flora selvagem, do património industrial e comercial, do património nacional com valor artístico, histórico e arqueológico e da propriedade intelectual”.

Esta semana, ao Expansão, Augusta Fortes não se referiu à “proibição” de importação destes produtos, mas admite que fez-se a descontinuação do processo de importação destes produtos. “Não estipulamos um determinado tempo para os importadores deixarem de vender, porque há mercadorias que foram desalfandegadas nestes últimos dias, logo, eles devem zerar o stock e a partir daí vão começar a cumprir o processo de descontinuação de importação dos referidos alimentos”, explicou.

Questionada se a Autoridade Nacional de Inspecção Económica e Segurança Alimentar (ANIESA) já foi notificada a fazer inspecções aos mercados para fiscalizar a venda destes produtos, a responsável admitiu que ainda é muito cedo para agir de forma coerciva, porque os importadores ainda têm muito produto em stock e havia quem estivesse a desalfandegar na mesma semana em que foi decretada a proibição. “Isto é um processo e depois a ANIESA e outros sectores poderão fazer o seu trabalho”, afirmou.

Fonte: Jornal Expansão

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