Pastores e analistas consideram que fenómeno exige ação das autoridades para a regulamentação. No Bengo, quintais são transformados em locais de culto. Cerca de mil igrejas aguardam reconhecimento do Estado angolano.
Nos últimos anos, Angola tem sido palco de um fenómeno: o aumento das seitas religiosas. Na província do Bengo, por exemplo, o aumento é exponencial e vários quintais são transformados em recinto para o culto.
Pastores dizem que o que vale é a boa vontade, mas levanta-se uma questão: é importante regulamentar o setor religioso? Analistas e pastores acreditam que sim, já que veem o fenómeno como preocupante, exigindo ação imediata por parte das autoridades e da sociedade em geral.
Não basta “acordar e decidir” ser pastor
Muitas das seitas são fundadas por líderes carismáticos que apresentam uma mensagem de salvação, prosperidade e cura, atraindo milhares de fiéis em todo o país. A situação tem chamado a atenção da população.
A transformação de quintais e cantinas em espaços de oração é vista como normal pelo evangelista da Assembleia de Deus Pentecostal, Teixeira de Andrade. O mais preocupante, ressalva, é a idoneidade dos responsáveis pelas seitas.
“Para que alguém se torne pastor de uma igreja não basta dormir, acordar e decidir. Há uma série de requisitos a serem cumpridos”, lembra. “Primeiro: o aspeto legal da própria igreja e a preparação da própria pessoa”.
Conflitos religiosos e sociais
O que muitas vezes passa despercebido é o “lado obscuro” dessas organizações. O pastor da Igreja Mundial, Ricardo Valentin, reconhece que muitas das mensagens pregadas por essas organizações são extremistas e preconceituosas, o que pode levar a conflitos religiosos e sociais.
“Muitas vezes, pessoas com espírito de ‘quimbandeirismo’, por vergonha de não se identificarem como quimbandeiros [curandeiros], apoiam-se no fenómeno religioso, como igreja, e isto tem criado sérios problemas e desestabilizado várias famílias nos bairros”, explica.
Crises levam fiéis à igreja
Estima-se que, pelo menos, cerca de mil igrejas aguardem reconhecimento do Estado angolano. O analista e docente universitário Amílcar de Armando entende que as crises que as famílias enfrentam, desde a financeira à de valores morais, podem estar na base do surgimento de várias igrejas.
“Estas igrejas, inclusive, prometem a um desempregado que vai ter carro, vai ter casa, aviões, prometem tudo e mais uma coisa”, afirma. “E as pessoas, como estão vulneráveis, por falta de solução, refugiam-se nas casas de oração, muitas vezes para passar o tempo, fugindo à depressão”.
“Tem essa parte psicológica que é positiva, mas é muito triste ver que a igreja surge como meio de escape para as pessoas”, lamenta o analista, apontando um trabalho profundo de educação como o caminho para inverter o cenário.
A bíblia explica
“A questão foi sempre o interior do indivíduo, por isso diz-se que o coração de cada um de nós é um verdadeiro mistério”, entende, por sua vez, o comunicólogo Manuel Godinho.
O especialista recorre aos escritos da bíblia para compreender a transformação de quintais e cantinas em locais de oração.
“Não é por andar numa igreja grande ou tradicional que vou me sentir uma pessoa imaculada ou santa como aquele que respeita e segue os preceitos bíblicos”, considera.
Fonte: DW
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