Sinistralidade Rodoviária: registradas mais de duas mil mortes de Janeiro a Outubro

A também coordenadora da Comissão Nacional de Viação e Ordenamento do Trânsito, sublinhou que, apesar dos números terem uma tendência a diminuir, se comparado com o mesmo período do ano passado, os números devem, no entanto, servir de alerta para inverter o quadro dos acidentes, mortes e feridos.

Esperança da Costa mostrou-se preocupada com os dados estatísticos que demonstram que se precisa fazer mais e melhor para reduzir significativamente os acidentes de viação nas estradas, prevenindo em pelo menos 50 por cento o número de vítimas mortais até 2030, de modo a estar em consonância com a meta definida pela Organização Mundial da Saúde (OMS), na década de acção pela segurança do trânsito 2021/2030.

Em Angola, disse, os acidentes de trânsito são a segunda causa de morte e a primeira em termos de deficiência física, causando dor e sofrimento às famílias e não estimula a economia nacional, face às perdas prematuras com a redução da força motriz, geradora de desenvolvimento, tendo impacto negativo sobre os indicadores de desenvolvimento humano.

Desde 2007, acrescentou, o país tem estado a assinalar o Dia Mundial em Memória às Vítimas da Estrada, através de acções para promover, de forma permanente, a prevenção e segurança rodoviária.

Assim, reforçou, o Conselho Nacional de Viação e Ordenamento do Trânsito, órgão de consulta do Titular do Poder Executivo, junta-se uma vez mais à causa e convidou as famílias e a sociedade para, exaustivamente, abordar o fenómeno dos acidentes de trânsito por forma a promover a prevenção e a segurança rodoviária.

Acrescentou que as teorias da investigação sobre os acidentes rodoviários que resultam da falta de harmonia ou da ruptura entre os três principais elementos do Sistema de Trânsito são o homem, o veículo e a via, onde o segundo, sendo o condutor, passageiro ou peão, é o protagonista, com cerca de 90 por cento dos acidentes provocados, quer por agir de forma negligente ou por imperícia, ou ainda dolosa.

A Vice-Presidente disse que foi já lançado um novo modelo de ensino da condução e habilitação legal para conduzir, indo em conformidade com o Decreto Presidencial 203/16, de 29 de Setembro.

Acentuou que se pretende deixar para trás o modelo de avaliação oral, que até então tem sido praticado, por ser um processo propenso a um conjunto de subjectividades, e implementar os exames multimédia ou escrito, a nível nacional.

Explicou que este modelo não é ainda o mais desejável, mas representa um passo importante para melhorar a qualidade dos futuros condutores e contribuir para a redução das taxas da sinistralidade rodoviária.

Ainda no quadro da celebração da efeméride, estão programados vários workshops sobre a prevenção e segurança rodoviária, que vão reunir instituições públicas e privadas, famílias e a sociedade, em geral, para discutir, educar e encontrar soluções para a definição de estratégias, com vista à redução a curto, médio e longo prazo da sinistralidade rodoviária no país.     

Esperança da Costa agradeceu ao Conselho Nacional de Viação e Ordenamento do Trânsito, às organizações não-governamentais, CEAST, CICA e aos parceiros privados pela promoção e desenvolvimento da actividade de sensibilização sobre a prevenção e segurança rodoviária no sentido de evitar mortes e sequelas.

“É hora de desenvolvermos um trabalho conjunto para devolver a paz nas estradas e todos juntos devemos agir já, salvar vidas, garantindo a segurança rodoviária”, frisou.

A também coordenadora da Comissão Nacional de Ordenamento do Trânsito lembrou que o 20 de Novembro é o Dia Mundial em Memória às Vítimas da Estrada, data instituída pela Assembleia-Geral das Nações Unidas, em Outubro de 2005, como forma de despertar a sociedade global, sobre a necessidade de uma urgente implementação de acções capazes de fazer face ao avanço galopante dos níveis de sinistralidade rodoviária.

Com esta efeméride que decorre sob o lema “Agir já e salvar vidas nas estradas”, disse que se pretende não só honrar a memória das vítimas das estradas, mas também consciencializar os cidadãos sobre a necessidade de uma reflexão profunda e de acções concretas, visando a redução dos índices da sinistralidade rodoviária.

De acordo com os dados da OMS, provoca, anualmente, mais de 1,3 milhões de mortes evitáveis e, quase 50 milhões de feridos, tornando-se na principal causa de mortes de crianças e jovens no mundo. Ainda segundo as estimativas da OMS, caso não haja alterações na forma de enfrentar esta realidade, nas próximas duas décadas, o número poderá aumentar em cerca de 75 por cento.

Marcha de solidariedade

Milhares de pessoas, com destaque para a Vice-Presidente da República, Esperança da Costa, marcharam, ontem, em solidariedade com todas as pessoas mortas como consequência dos acidentes de viação nas estradas do país.

A marcha juntou várias individualidades da sociedade e membros de organizações da sociedade civil, como a Associação dos Motoqueiros e Transportadores de Angola (Amotrang), Associação dos Taxistas de Angola, Nova Aliança dos Taxistas, Associação Jovens da ADPP, entre outras, partiu do viaduto da entrada da Centralidade do Kilamba até ao largo adjacente ao Pavilhão Multiusos.          

Na caminhada, os participantes entoaram cânticos apelando para a necessidade de haver paz nas estradas, ao mesmo tempo que se apelava aos automobilistas e moto-taxistas para evitar o excesso de velocidade, usar o cinto de segurança, evitar falar ao telefone e não usar bebidas alcoólicas durante a condução, bem como fazer uso do capacete de protecção.

O carro alegórico emitia som alto chamando a atenção de todos os automobilistas para a necessidade de prevenir os acidentes rodoviários, que têm enlutado famílias. Dados estatísticos fornecidos pela Direcção de Ordenamento e Segurança Rodoviária indicam que nos últimos 10 anos o país registou 141.817 acidentes de viação, 33.817 mortos e 145.232 feridos.

Já no largo adjacente ao Pavilhão Multiusos do Kilamba, a Vice-Presidente da República visitou a Feira de Prevenção da Sinistralidade Rodoviária, onde estão expostas bancadas e serviços feitos pela Polícia Nacional e outras organizações, como as seguradoras e a Amotrang. Do outro lado da feira, a Vice-Presidente observou atentamente as seis viaturas e duas motorizadas acidentadas de forma espectacular, sem possibilidade de recuperação.

Amotrang preocupada

Presente na marcha com um número considerável de motoqueiros, o presidente da Associação dos Motoqueiros e Transportadores de Angola (Amotrang), Bento Rafael, mostrou-se preocupado com o aumento de acidentes de viação envolvendo moto-taxistas.

Bento Rafael fez saber que a associação tem duas escolas de formação de condutores em Cacuaco e Viana. Tem parceria com a Direcção Nacional de Viação e Ordenamento do Trânsito, na formação dos seus filiados, acrescentando que vários motoqueiros conseguiram carta de condução e livretes das motorizadas.

Frisou que em Luanda o número de acidentes envolvendo motorizadas tem aumentado devido, também, ao aumento de novos condutores, pois muitos são provenientes das demais províncias e encontram, nesta actividade, a forma de sustento das famílias.

Bento Rafael referiu que a associação tem trabalhado, também, em parceria com o Instituto de Formação Profissional (INEFOP), no sentido de dar formação de condução defensiva e empreendedorismo a outros mototaxistas.

Frisou que milhares de cidadãos têm nas motorizadas o seu emprego, que permite levar à mesa as duas ou três refeições para as famílias diariamente, mostrando-se, por isso, satisfeito em saber que, nesta actividade, permite reduzir o número de jovens desempregados.

Concluiu-se que a meta é trabalhar para que as classes de motoqueiros se tornem em grandes empreendedores e com a frequência de cursos de empreendedorismo proporcionados pelo Plano de Acção para a Promoção da Empregabilidade (PAPE). 

Mensagem do ministro do Interior

O ministro do Interior afirmou, ontem, que as autoridades angolanas continuam preocupadas com o índices de acidentes rodoviários no país, um dos maiores factores de mortes em Angola, considerando “razão bastante para se apelar aos automobilistas e aos demais utentes no sentido de evitarem excessos, condução em estado de embriaguez e a observarem as normas do Código de Estrada, para uma maior prevenção”.

Eugénio Laborinho realçou que é importante enaltecer o trabalho desempenhado pelos agentes reguladores de trânsito, afectos à Polícia Nacional, em conjunto com outros sectores do Estado, frisando que “têm cumprido o seu papel na sensibilização e prevenção, com o intuito de reduzir os índices de sinistralidade rodoviária no país”.

O ministro do Interior, na nota alusiva ao Dia Mundial em Memória às Vítimas da Estrada, assinalado ontem, homenageia todas as pessoas que perderam a vida nas estradas nacionais, bem como os familiares dessas vítimas.