Avenida Deolinda Rodrigues O relógio marca 8 horas. Centenas de peões circulam de um lado para outro, um movimento que se tornou rotineiro nesta zona de Luanda, a capital do país. No mesmo horário, ao longo da alameda, várias motorizadas, viaturas ligeiras e pesadas circulam de um lado e do outro. O trânsito é bastante fluido.
Conhecida igualmente por Estrada de Catete ou Estrada Nacional 230, a via tem a particularidade de dispor de várias travessias áreas (pedonais), uma das quais em direcção à empresa de venda de materiais de construção, apelidada pelos próprios cidadãos de “Pedonal da Fermat”.
Há meses que a pedonal passou a constituir um risco de vida aos usuários, devido ao seu estado de degradação. Chapas soltas e com ferrugens, buracos nas juntas dos degraus, a que se junta os abanões frequentes em virtude do movimento de viaturas. Em suma, passou a ser uma pedonal imprópria para transeuntes cardíacos.
Utilizada constantemente pelos cidadãos residentes nos edifícios da Filda, nos bairros Cazenga, Cuca, Capolo, Palanca, entre outros pontos de Luanda, a sua degradação fez aumentar os receios e, consequentemente, cresce o número de reclamações de quem por lá tinha de fazer a travessia.
Entretanto, apesar do sinal de interdição colocado nos dois pontos principais de passagem, nomeadamente ao redor dos degraus iniciais, ambos enferrujados e com fissuras, indicando claramente a proibição para a sua utilização, populares há que ignoram o aviso, arriscando as suas vidas mesmo diante dos vários alertas.
No local, o Jornal de Angola constatou, ao redor da pedonal, uma concentração de pessoas, desde vendedoras ambulantes, mototaxistas, taxistas, agentes reguladores de trânsito e da ordem pública e, também, passageiros, à espera de transporte com destino a Viana, Zango e Mercado do 30.
Do lado oposto, era também notável a presença de taxistas e passageiros que seguiram viagem no sentido inverso, mais concretamente para o Cazenga, Cuca, Kikolo e para o centro da cidade. Porém, ambos convergem quanto à importância que a “Pedonal da Fermat” passou a ter nas suas vidas.
“Mesmo depois da constatação do perigo no local, pelas autoridades competentes, a população continua a ignorar o sério risco de vida que a pedonal agora representa. O perigo está à espreita e qualquer movimentação feita de modo contrário será fatal”, considera o jovem Joaquim Alegria, salientado que alguns pontos da pedonal estão completamente danificados pela ferrugem, com muitos buracos, chapas soltas e amolgadas.
Visivelmente triste com a imagem que a pedonal agora apresenta, Joaquim Alegria receia que possa acontecer uma tragédia, se os peões insistirem em fazer uso da infra-estrutura degradada.
A cada passo, diz, a chaparia dos degraus consumidos pelo tempo, muito por conta da falta de manutenção, às vezes produz um som assustador. Por este motivo, sugere que as autoridades tomem medidas mais rígidas para impedir a circulação de pedestres, incluindo crianças, que, seja por inocência ou ignorância, fazem vista grossa aos sinais de perigo. Circulam com toda normalidade.
Dificuldades e desafios
Residente no bairro Tala-Hady, município do Cazenga, Pedro da Costa é um dos milhares de usuários da “Pedonal da Fermat”. Enquanto cidadão, considera lastimável o actual estado da estrutura que lhe dá suporte e, por esta razão, apela a pronta intervenção das autoridades, sobretudo devido a época chuvosa e para melhor conforto daqueles que dela dependem, para fazer a travessia de um lado para outro, ao longo da Avenida Deolinda Rodrigues.
Maria Domingos, 63 anos, partilha o mesmo pensamento. A anciã, que mora no Nzamba 1, tem tido sérias dificuldades para subir e descer os degraus da pedonal. Embora saiba que a estrutura está interdita, justifica a sua atitude por não encontrar alternativa, uma vez que evita correr risco de vida ao atravessar a estrada.
“Sei que está fora de uso, mas tinha que arriscar passar pela ponte, cujos degraus estão furados”, disse Maria Domingos, consciente que um passo em falso na estrutura metálica pode ser fatal. Além de manifestar que se está diante de um perigo certo, Maria Domingos junta a sua voz à da maioria dos usuários que clama por uma intervenção imediata das autoridades competentes, para se evitar danos maiores.Leonardo da Silva, 29 anos, mora no bairro da Madeira. O jovem que exerce há anos a actividade de mototáxi no Largo da Filda, não compreende a demora que se regista para a recuperação ou substituição da infra-estrutura metálica.
“Moro aqui há 5 anos. A pedonal era boa e se fizessem manutenções regulares não estaria nesse estado. Está enferrujada e há um buraco grande lá em cima. Uma pedonal com tantos buracos e sem manutenção é claro que constitui grande perigo para quem a utiliza”, sublinha.
Leonardo da Silva conta que pelo estado degradado da pedonal, muito recentemente, na tentativa de atravessar a estrada, um jovem foi atropelado e partiu a perna.
“Fecharam a ponte, mas pelo menos tinham de colocar uma passadeira ou criar outra alternativa para facilitar a vida dos peões. Sugiro que se restaure a pedonal o mais rápido possível, para que possamos voltar a utilizá-la”, disse. Embora não tenha noção do tempo que a pedonal passou a perigar a vida dos usuários, Elisabeth Quindai, que vive na Estalagem, afirma que o estado da infra-estrutura é crítico e coloca em permanente risco a integridade física da população. “Algumas partes da estrutura, como porcas parafusos e degraus, foram retiradas por pessoas desconhecidas”, lamenta.
Travessia de risco
À chegada ao local, o Jornal de Angola flagrou um grupo de cidadãos que, na ânsia de chegarem aos lugares de destino, romperam os separadores e arames de vedação que separam os limites dos sentidos ascendentes e descendentes da Avenida Deolinda Rodrigues.
“Já presenciei um momento triste, em que algumas pessoas caminhavam pela pedonal já interditada e lá em cima escorregaram e quase caíram. Pelo menos tinha de haver aqui agentes da Polícia a ajudarem os peões a atravessarem a estrada”, disse o taxista Simão João.
Alice Jaconda, 49 anos, vende bombó frito, banana assada e ginguba torrada, e outras iguarias, próximo a um dos pilares principais que sustenta a estrutura metálica. A mulher conta que, há cinco anos, praticamente ninguém podia prever que a “Pedonal da Fermant” estaria neste estado.
“A ponte era boa e passávamos sem dificuldades, mas agora existe nela um buraco que me impede de ir para o outro lado sem tirar a banheira de negócio da cabeça. Também, por causa do peso e pelo estado da ponte, tenho de pedir ajuda a quem estiver a passar, para eu poder descer em segurança”, disse.
Imprudência de peões e automobilistas
No local, um agente regulador de trânsito em serviço explicou que, como consequência da degradação da pedonal, registam-se vários casos de atropelamento, alguns dos quais mortais, desde atropelamento de peões, colisões de viaturas e outros tipos de acidentes.
Colocado há mais de um ano a trabalhar ao longo da Avenida Deolinda Rodrigues, bem próximo a “Pedonal da Fermat”, o agente da Polícia Nacional alerta para a necessidade de os automobilistas e motociclistas redobrarem a atenção naquele ponto da via. O actual estado da estrutura e a imprudência dos pedestres que atravessam a estrada, desrespeitando as regras do Código de Estrada e, por conseguinte, provocando embaraço aos condutores, menciona, constitui um quebra-cabeça para os condutores.
“A maior parte dos acidentes ocorre por conta da indisciplina dos peões e imprudência dos condutores. Quando atravessam a estrada, os peões muitas vezes desafiam os veículos, colocando em risco as suas vidas”, disse o agente regulador de trânsito, apelando de seguida a prudência entre as partes e a pronta intervenção do Governo Provincial de Luanda.
Coincidentemente no local, o jovem Abdulhay, de 42 anos, natural da Guiné-Conacri, que seguia ao volante de uma viatura, viu-se envolvido num acidente de viação. Atropelou um cidadão na faixa de rodagem de veículos próximo a “Pedonal da Fermat”. Felizmente, apesar da pancada, Justo Cajolola levantou-se. Parecia estar muito bem e foi-se embora para casa.
Fonte: JA
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