O ministro de Estado para as Finanças do Gana, Charles Adu Boahen, foi destituído, após ser apanhado a pedir subornos de 200 mil USD a mineradores de ouro, numa investigação jornalística, que também envolve o nome do vice-presidente, Mahamudu Bawumia. A destituição do ministro, com efeitos imediatos, foi confirmada pelos serviços da presidência, numa declaração divulgada segunda-feira, 14, antes mesmo da exibição do documentário “Galamsey Economy”, do jornalista Anas Aremeyaw Anas. Além de confirmar a destituição de Adu Boahen, que exercia o cargo de adjunto do ministro das Finanças deste 2017, a presidência informa que o assunto foi remetido “para o procurador especial para novas investigações”.
“Galamsey”, que dá nome ao documentário de Anas Aremeyaw Anas, é o termo local usado para mineração ilegal de ouro de pequena escala. A exploração mineira artesanal é generalizada no Gana, sendo responsável por cerca de um terço da produção do segundo maior produtor de ouro em África, como refere a Reuters. O trailer do documentário, que teve exibição pública no Centro Internacional de Conferências de Acra, mostra imagens de Boahen a tentar exigir 200 mil USD a potenciais investidores, alegadamente para dar ao vice-presidente, Mahamudu Bawumia, para fazerem negócio e para poderem actuar sem entraves.
O ministro demitido não atendeu as chamadas telefónicas dos jornalistas, nem respondeu aos pedidos de esclarecimento, segundo reporta a imprensa nacional e internacional, mas o vice-presidente usou o Twitter para desmentir qualquer ligação ao caso. “Se o que o ministro supostamente disse for captado com precisão no vídeo, então a sua posição como ministro de Esta[1]do é insustentável”, escreveu Bawumia no Twitter, acrescentando: “Não permitirei que ninguém utilize o meu nome para se envolver em actividades corruptas”. O Twitter do vice-presidente foi inundado com comentários a exigir a sua demissão e capas de jornais nacionais com o escândalo de corrupção em manchete.
Anas Aremeyaw Anas é um conhecido jornalista ganês, que actua sob anonimato. Os seus trabalhos já provocaram a demissão de mais de 30 juízes, por terem recebido subornos para desistirem de casos, como refere a AFP. Uma investigação sua levou, em 2018, a FIFA a expulsar o presidente da Federação de Futebol do Gana, Kwesi Nyantakyi, após ser filmado num quarto de hotel a receber subornos, e mais de 50 árbitros em África foram sancionados, após investigações suas.
O escândalo com Adu Boahen ocorre numa altura em que o ministro das Finanças, Ken Ofori-Atta, enfrenta uma moção de censura, em discussão no Parlamento, pelo mau desempenho económico do país. A moção, apresentada pelo Congresso Nacional Democrático, partido na oposição, conta com o apoio de alguns parlamentares da maioria que sustenta o governo, o Novo Partido Patriótico. “O despedimento de Charles Adu Boahen não tem sentido, a menos que esteja ligado à demissão de Ken Ofori-Atta”, escreveu o deputado Davis Opoku, no Facebook. Ken Ofori-Atta lidera as negociações com o FMI para aprovação de um programa de financiamento ampliado, com um empréstimo de 3 mil milhões USD, quando a economia do Gana enfrenta enormes dificuldades.
A moeda nacional, o cedi, desvalorizou 40% desde o início do ano e a inflação em Outubro atingiu os 37%, enquanto os eurobonds desvalorizaram, restringindo o acesso aos mercados. Cenário macroeconómico adverso que levou o Presidente, Nana Akufo-Addo, a anunciar no início do mês cortes de 30% nos salários dos titulares de cargos públicos.
Fonte: Club k Angola
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