Mudanças dos hábitos alimentares causados pela perda do poder de compra acarretam consequências para a saúde física e mental das pessoas. Taxa de desnutrição crónica em Angola atinge uma em cada duas crianças. O lado social também é afectado, baixa qualidade de vida fomenta negócios ilícitos.
Os hábitos alimentares das famílias angolanas sofreram alterações drásticas influenciadas pela perda do poder de compra que se agravou com o passar dos anos, o que tem impacto na sociedade, inclusive na saúde pública, já que os alimentos que tradicionalmente estavam nas mesas das famílias hoje estão mais caras, obrigando a procurar alternativas mais económicas. Por isso, o leite e a carne de vaca foram sendo cada vez mais raros, enquanto as carcaças e as cabeças de peixe vão ganhando cada vez mais espaço nos pratos das famílias, especialmente as mais pobres.
Sem o País conseguir dar passos significativos na diversificação económica para atenuar os impactos dos choques de preços no sector petrolífero, as famílias têm sobrevivido a diversas crises financeiras e económicas ao longo de uma década. Todos os anos perdem poder de compra já que a subida dos preços dos bens de consumo não é acompanhada por aumentos dos salários em proporção.
Desde o tempo do dólar a 100 Kz, que vários produtos que eram habitualmente visíveis na mesa dos angolanos deixaram de o ser. São os casos da carne de vaca, da carne porco, de miudezas (como rins, iscas e moelas de galinha), broa, leite, mortadela, e alguns enlatados como as salsichas, chouriço, atum e sardinhas.
Para se ter uma ideia, a caixa de coxa de frango que em 2013 custava por volta de 2.500 Kz, hoje é comercializada a 14.000 Kz e o saco de arroz de 25 Kg que custava à volta de 4.000 Kz hoje é vendido a 17.000 Kz, mas pode ir a 20.000 Kz, consoante as marcas. Há que ter em conta que só este ano ocorreu uma forte desvalorização do kwanza, entre Maio e Junho, pelo que, se a situação já não era fácil, ficou mais difícil comprar arroz, óleo alimentar, açúcar e até coxas de frango.
Assim, a escalada dos preços ao longo de uma década provocaram transformações no leque de produtos que as famílias angolanas consomem. A coxa de frango acabou por ir dando lugar às carcaças de frango, o leite deu lugar ao chá e hoje é comum comprar-se cabeças de peixe como carapaus e sardinhas nos mercados. Só para se ter uma ideia, uma coxa de frango custa 1.000 Kz enquanto cinco unidades de carcaças de frango são comercializadas a 500 Kz (nos mercados informais).
Mas nem tudo são más noticias para a saúde, já que o consumo de óleo e açúcar tem estado a reduzir por conta da contínua subida dos preços. Há famílias que até já pararam de confeccionar alimentos fritos com o intuito de poupar óleo que actualmente custa 1.900 Kz, sete vezes que do que os 270 Kz que custava em 2013 nos mercados informais. Já um quilo de açúcar saiu de 250 Kz para 1.400 Kz.
Por outro lado, muitas famílias aumentaram consideravelmente o consumo de alimentos do campo, como a rama de batata, a couve, beringelas, e o repolho, entre outros, com preços que variam de 100 Kz a 500 Kz.
Esta realidade levou também a mudanças na conduta social das famílias que põe em causa a saúde pública. Por exemplo existem alguns casos de comercialização ilícita de alimentos adulterados, mal conservados, produzidos ou armazenados em condições inapropriadas. Em casos mais extremos, que foram denunciados publicamente, há casos de comercialização de carne de cães e gatos como se fossem de vaca ou porco, o que não era costume na nossa sociedade.
Fonte: Jornal Expansao
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